tem uns videos no youtube com entrevistas de uma certa fauna marginal estadounidense
fico pensando em fazer uma sobre sp
mas nao da
tem uma gringa meio mala interrompendo meus pensamentos produtivos de derrotismo estético
eu podia matar a gringa e dar vazão aos meus pensamentos produtivos mui artísticos de tom mezzo marginal da favela do cal mezzo caipira do pátio industrial do brás mezzo aesthetic kidcore de rede social
mas ela segura uma estrela dourada numa mão e um AKA 47 na outra
diz pra mim: seja feliz, seja feliz, seja feliz!
me obriga a dar atenção a tudo que não sei
e, depois, baixinho, ela ri: "motherfucker"
me dá um arrepio horrendo
as imagens que venho fazendo.
ainda fico sabendo que mais que 70% de nós pode ter vermes no sistema digestivo
já pensou?!
em semi-tom, a voz aparece no palco da minha loucura: "motherfucker"
e continua, me adivinhando: "e você, que não tá vermifugada?"
ok, atenção, foco, disciplina, fé em deus.
eu começaria assim o video de sampã:
"ta muito empatado escrever hoje
e esqueci de ler o horoscopo"
- "so much suffering" - numa voz em off, se possível rouca, pra dar legitimidade dramática
aff, chega, já cansei dessa tarefa.
é vero que sobem mil vídeos por nanosegundo nas plataformas digitais
- já pensou?! -
então eu acabo achando que é mais que o suficiente.
não acha?
no mais, ando lendo umas historias de mulheres
grandes tragédias latinas
cachorronas lokas
nenens órfãs,
afetos ferozes,
paraisos internacionais,
tropicais contidas,
universais de salto,
particulares com línguas,
umas traduções impossíveis,
mas nada me diz de mim.
se eu pudesse misturar uma coisa aqui e outra ali, me adivinharia.
(é preciso escrever).
(eu quem devo descobrir).
mas cá estou na prisao do corpo
em pt-br, senhoras e senhores,
portanto são poucas as filosofias possíveis.
melhor dizer, pra resumir:
ainda tenho órgãos e defendo minhas células.
por fim, bradar: quem são vocês pra falar de nós?!
("unpolite little bich ill kill you till you tried not to let me do it")
(é a histérica me enlouquecendo no palco da loucura, agora me mandou calar a boca a filha da puta)
continuemos
e
o mesmo corpo tá diluido no discurso
a linguagem sofrendo hack attack
fica difícil dizer com firmeza "tenho órgãos e defendo minhas células"
corpo ou discurso?
agora mais essa.
(quem é inteligentinho diria: os dois!
mas desse lado nós sabemos bem o que é não poder ser os dois
meu corpo foi comprado pelo mercado de trabalho quando eu ainda tava na barriga da velha da minha mãe)
no mais,
troféus, cômodos, linguajares, publicações, moda fitness, aleatoriedades que são
todas e tantas palavras inacreditáveis
e possíveis.
até que se prove o contrário.
e ainda assim nada adiantará
(a histeria comendo minhas vísceras)
(gargalhando)
corações colapsando
via dores lancinantes no peito
anxiety
burnout
transtornos
as palavras da vez
e os lobos correndo ferozes famintos famintos famintos
(ela comenta que "thats your algoritme dumb, thats not as palavras da vez"
e a gringa maldita brinca que hoje no teatro estréia "A Burra", estrelando eu, A Burra)
eu não vou deixar vocês me derrubá
canto então em alemão se precisar
os homens vão me achar linda e engraçada e vocês vão ficar com inveja.
(a gringa histérica se regozija e berra no palco da loucura que achou que ia demorar mais pra me vencer...abre a bolsa, tira um saquinho de trecos, começa a lixar as unhas...)
eu tiro a roupa e canto mal:
"this world
is
going up in flames"
palhaça, prossigo:
"e eu tenho no words to explain!"
ninguém ri.
suando frio, balbucio: "deixa-me ver, vou espremer pra ver se sai mais alguma sabedoria express pra vocês..."
- a nossa historia de vida é de mitos vorazes
pais bebuns maes colapsadas
irmaos que se vão morrer lentamente dentro de nobres ignorâncias
vagarosamente
tudo cessa
throw the road of life.
e nós não viramos grandes estrelas
já que é tudo tao complicado
e indecifrável,
ainda que intrincado.
as historias de vida
a fenda no tempo,
a narração,
a lenda,
os mitos fundadores,
a pausa pra observar melhor
quem cada um é ou sabe de si...
na inteligencia proletaria
é tudo um simples dilema de folhetim didático
que ninguém lê.
ou uma breve luta de espadas
de onde todos saem fatalmente feridos.
pronto, agora acabou as sabedorias mesmo.
(a gringa histérica recolhe o saquinho de trecos, boceja forçosamente, fecha sua bolsa e sai de cena. me venceu, a pestilenta, sei porque lembro que preciso preparar o jantar)
antes de sair, pra não ficar na cara que vou sair vencida, falo num tom firulento meio fake meio verdadeiro:
"se eu fosse ligeira
dava um nó no destino,
transava de fato,
ignorava esses mitos,
escrevia meu hino
e incendiava meu corpo no meio do passeio público!"
de novo, ninguém ri